


Deveríamos ter vergonha de usar chocolate belga
Ao contrário do que muitos pensam, o chocolate não era natural do México. Ele tem sua origem na Amazônia.
por Arthur R. Lazzarotto
Calma! Eu não tenho nada contra o chocolate belga, francês, norte americano ou de qualquer outro lugar do mundo. Entretanto, quando vendemos e compramos chocolate deveríamos ter orgulho de estar na América do Sul! Um brigadeiro, por exemplo, poderia muito bem ser brasileiro, 70% chocolate amazônico, cheio de orgulho! Por que brigadeiro bom tem que ter nacionalidade belga? Afinal, estamos na terra no chocolate, literalmente.
O fruto amargo parece viver um caso semelhante ao do tomate. Ambos vieram do continente americano e ambos são famosos pelas mãos de países europeus.
Chocolate, do termo Xocolat, em língua náuatle asteca, tem fãs a, pelo menos, três milênios. Ao contrário do que muitos pensam, o chocolate não era natural do México. Ele tem sua origem na Amazônia. Segundo os estudo mais recentes – como esse texto da National Geographic explica, o chocolate foi domesticado a cerca de 3,6 mil anos atrás, no norte da Amazônia (atual Equador). Através da troca entre os povos que aqui habitavam, foi levado até o atual México. Por onde passou foi usado em rituais, como moeda de troca e remédio. Muitos séculos depois, invasores ficariam maravilhados com a bebida amarga e a espalhariam pelo mundo.
Os espanhóis que chegaram ao Império Asteca ficaram impressionados com a bebida escura e apimentada (eles adicionavam pimenta, baunilha entre outras especiarias) como conta Lucrecia Zappi em seu livro, Mil-folhas. A bebida virou uma sensação na Europa e por lá surgiram novas formas de consumo como chocolate em pó, que foi usado como remédio por muito tempo e, por fim, a famosa barra de chocolate tomou forma no Reino Unido. Esse era o primeiro passo do chocolate para a conquista mundial dos paladares.
O cacau teve e continua tendo importância socioeconômica na América do Sul. Alguns dos melhores cacaus estão sendo produzidos aqui e a apreciação deles tem ganhado atenção nos últimos anos. Inclusive tem sido usado por indígenas como forma de sustento econômico e resistência ao garimpo ilegal. Os Yanomami, como conta essa matéria do El País, têm produzido chocolate orgânico como resistência e, boa notícia, os estoques tem durado pouco!
Motivos não faltam para consumir o doce amargo cultivado e produzido por aqui que tem ganhado prêmios mundo afora. Eu sei que nem sempre os fabricantes especificam a origem e as barras artesanais possuem um valor mais alto, mas na próxima vez que for comprar um chocolate de presente ou para uma receita especial, tente evitar as grandes franquias. Procure esses diversos artesãos e artesãs que produzem e vendem (local ou digitalmente) barras muito saborosas com os mais variados estilos e sabores. Esses produtores, na maioria das vezes, estão dispostos a contar de onde o cacau vem, como negociaram e porquê escolheram ele. Você tem que concordar que e muito mais interessante presentear alguém explicando como aquela deliciosa barra chegou até as mãos dela, a dizer que viu em um comercial na TV?
Talvez o cacau, vindo da Amazônia, famoso pelo uso dos Astecas, convertido em barra pelos europeus e cultivado massivamente na Ásia e África, seja um doce viajante. Nativo da América do Sul, chegou ao Norte e depois viajou continentes para conquistar paladares. Mas podemos dizer que sua terra natal e o início da sua jornada foi na selva amazônica.
fotos: David Greenwood-Haigh e Charisse Kenion | Unsplash
COLOQUE O CONHECIMENTO EM PRÁTICA


Chocolate quente cremoso
VIVA O BEAN TO BAR!

Bean to bar como ferramenta para a confeitaria

Bean to bar industrial e artesanal na confeitaria

A revolução do chocolate
