


Canjica | Mungunzá
Essa receita de canjica é da minha avó Martinha, feita exatamente como ela fazia, só com 3 ingredientes e temperada (dito exatamente como ela dizia) com amendoim moído. O preparo é prático e rápido, do jeito que uma cozinha caseira deve ser!
por Joyce Galvão
ESSA RECEITA
É afetiva, cheia de carinho. Minha avó fazia quando eu era pequena e minha mãe passou a receita para mim.
Serve até 4 pessoas. Mas na minha casa serve apenas uma. No caso: eu! ?
O preparo é rápido e fácil (todo mundo pode fazer!), desde que o milho já tenha passado pelo demolho.
INGREDIENTES
AH!
O demolho serve apenas para adiantar o processo de cozimento. Quanto maior o tempo, mais rápido sua canjica vai cozinhar.
- 1 xícara (chá) | 190g
milho branco para canjica - 2 xícaras (chá) | 480mL
leite integral - ½ lata | 195g
leite condensado - ½ xícara (chá) | 50g
amendoim torrado e moído - pitada de sal
FICA A DICA
Se você não consome leite de vaca pode substituir por leite de coco caseiro ou por leite vegetal de amêndoas, castanha de caju, etc!
ACESSE AQUI | RECEITA DE LEITE DE COCO CASEIRO
COMO PREPARAR


AH!
al dente é o estado de cozimento em que, um grão ou massa, estando cozido, oferece alguma resistência ao ser mordido. A textura é firme mas não dura.
A palavra vem do italiano e significa precisamente ao dente.
- Coloque a canjica em uma tigela e cubra com água fresca. Cubra a tigela com um prato e leve para a geladeira. Deixe de molho por 6-12 horas.
- Passado o tempo do demolho, transfira a canjica com a água para uma panela média e cozinhe até ficar al dente (macia, porém, firme no centro do grão) – cerca de 15 minutos.
- Junte o leite, o leite condensado e deixe a canjica cozinhar por mais 20 minutos ou até ficar bem macia.
- Enquanto a canjica cozinha, preaqueça o forno a 180 °C.
- Coloque o amendoim em uma assadeira e leve para torrar por cerca de 8-10 minutos. Retire o amendoim do forno e esfregue para retirar a casca.
- Com auxílio de um leque, um papelão ou uma tábua de cozinha (leve) abane o amendoim para que as casquinhas voem (minha avó fazia isso no quintal, para não se preocupar com a sujeira!)
- Triture o amendoim no liquidificador (ou processador) até formar uma farinha. Reserve.
- Quando a canjica estiver macia, tempere com o amendoim e deixe esfriar com a panela tampada. Leve para a geladeira por pelo menos 1 noite (como diria minha avó: tudo no dia seguinte fica melhor!)
- Sirva a canjica gelada (para quem gosta) ou aqueça somente a porção que será servida com um pouco mais de amendoim.
UMA CUMBUQUINHA CHEIA DE HISTÓRIA



Minha avó tinha o sorriso frouxo e os olhos brilhantes cheio de lágrimas emocionadas. A voz rouca revelava a alegria ao me ver entrar pela porta da cozinha, todas as vezes que a visitava em Quiririm, Taubaté.
Lembro do avental de plástico amarrado na cintura, do varal com roupas estendidas no meio da cozinha, brigando por espaço com o fogão.
Quando minha avó se foi, deixou comigo uma enorme saudade. E também seu velho caderno de receitas e essa cumbuquinha. Por isso, para mim, não existe outra louça permitida para se comer uma boa canjica!
Enquanto a canjica me faz lembrar o abraço dela, passo a ponta dos dedos delicadamente nas bordas gastas, imaginando que são os dedos dela que toco, em um desespero de diminuir as saudades no peito.
Um afeto e um afago, pra mim, esse é o poder dessa receita de canjica.
Quem já tomou Chá de burro, levante a mão!
No Maranhão reza a lenda que se toma “chá de burro” para ficar inteligente! Sabe quando mais se consume esse chá? Nas festas juninas. Nas redondezas, bem na região amazônica, há uma lenda do bolo boto-cor-de-rosa que seduz as mais belas moças solteiras nas noites de comemorações da festa junina. Será que se elas tomassem um chá de burro ainda cairiam na lábia do boto?
A canjica, segundo Câmara Cascudo é um dos “[…] modelos mais simples [de arroz doce], certamente os mais antigos, figuravam nas mesas pobres nos momentos de alegria. Era uma constante na “festa de pobre”, como a canjica pelo São João.” Inspirado no arroz doce, trata-se, portanto, de um dos modos mais antigos e mais frequente de consumir milho no Brasil, tão popular na senzala quanto na casa grande, das casas abastadas às mais humildes.
Nesse país imenso, são tantas formas de nomear esse doce, um dos mais genuinamente brasileiros. E também um dos mais consumidos nas festas juninas de norte a sul do Brasil. Chama-se Chá de burro e Mingau de milho (regiões do Maranhão e Piauí), Piruruca (Minas Gerais), Corá e Canjiquinha (Rio de Janeiro), Mugunzá ou Mungunzá (parte do Nordeste) e Canjica na maior parte do país. Os escravos chamavam a canjica, refeição vespertina da senzala, de “angu de caroço”, expressão utilizada até hoje para definir uma confusão, do mesmo modo que “tem caroço nesse angu” sugere desconfiança numa determinada situação.
O sabor desse doce também varia de acordo com a região. Pode ser produzido com milho branco, mas também pode-se optar pelo amarelo, leite de vaca ou leite de coco, açúcar, mel, melado ou melaço e rapadura, cravo e canela, pedaços de coco, amendoim ou paçoca. Qual é o seu? O paladar e os hábitos alimentares são características culturais, por isso Cascudo adverte: “É indispensável ter em conta o fator supremo e decisivo do paladar”.
Agora, você que só fica aí “com as canjicas de fora” (rindo), achando que “debaixo desse angu tem caroço” (desconfiado) então, vamos, literalmente, “pôr fogo na canjica” (animar) minha gente! Já para a cozinha!
Lúcia Soares
VEM PRO ARRAIÁ DO SOBREMESAH

