


Andrea Dopico: a busca pela excelência
Apesar de ter raízes espanholas, Andrea Dopico nasceu em Caracas (Venezuela). Descobriu sua vocação muito cedo, mas levou anos para entrar no mundo da gastronomia. Confira nossa entrevista com a finalista do concurso C3 Valhrona.
por Joyce Galvão
Andrea Dopico nasceu com o dom da confeitaria, mas demorou 22 anos para dar uma oportunidade à sua paixão. Segundo ela, foram tantas coisas deixadas para trás para seguir seu sonho, que hoje não existe nada além da busca pela excelência. E esse é o motor que conduz a venezuelana de 26 anos, formada com honras pelo Pacific Institute of Culinary Arts de Vancouver , finalista de um dos concursos mais importantes de confeitaria do mundo e com passagem pela confeitaria de restaurantes prestigiados da Espanha.
Quem é a Andrea Dopico?
A Andrea é (nas palavras do meu melhor amigo) “uma pessoa lutadora, sensível e criativa”.
Como a confeitaria entrou na sua vida e qual foi o caminho percorrido desde o seu primeiro emprego até a participação no campeonato C3?
Nasci em Caracas, em uma família espano-italiana com uma boa mão para a cozinha. Amantes da arte e viajantes sem destino final. Sou formada em um colégio alemão e fui da equipe nacional da nado sincronizado por 10 anos. Buscando novos caminhos me mudei para Madrid afim de estudar Publicidade & Relação Públicas, pensando que meu amor pela confeitaria não tinha uma saída profissional.
Terminei meus estudos, retornei muito brevemente à Venezuela por razões pessoais e, foi quando finalmente decidi dar uma oportunidade aos meus sonhos. Fiz então um intensivo de confeitaria no Pacific Institute Of Culinary Arts em Vancouver, onde me graduei com honra ao mérito e como melhor aluna da sala. Retornei a Caracas fiz estágio no ALTO, sob comando de Carlos García, onde me apaixonei pelo produto venezuelano e a filosofia da alta gastronomia. Depois passei rapidamente por El Club Allard antes de passar férias em Barcelona, que se tornaram indefinidas. Fiz uma entrevista no local que trabalho hoje, sabia que não tinha uma grande trajetória, mas em Moments (restaurante barcelonês de Mandarin Oriental condecorado com duas estrelas Michelin) acreditaram na minha paixão, na minha entrega, e até hoje tem sido um apoio fundamental.
Por que escolheu a Espanha para viver e trabalhar? Existem planos de retornar ao seu país?
Considero a Espanha, em especial Barcelona, o nível máximo da confeitaria de vanguarda. Para mim não existe melhor lugar para aprender alta gastronomia e confeitaria de restaurante.
No momento não penso em retornar. Mas não é algo descartado. Talvez no futuro.
Raíces, inspirada na Floresta Amazônica
O que te inspira?
Sou viciada em desafios, em fugir da rotina. Isso é meu motor.
De referências eu gosto de pesquisar em outras disciplinas: arquitetura, esporte, arte… Acredito que existem muitos estímulos esperando serem interpretados na gastronomia.
Ao criar uma sobremesa qual seu ponto de partida? O sabor, a cor ou a montagem?
Primeiro penso no equilíbrio e em picos de sabor. Depois em temperaturas e texturas. As vezes penso em tudo isso ao mesmo tempo e as vezes em nenhuma dessas coisas!
Qual sua criação preferida?
Uma variação da crema catala, muito similar ao crème brûlée. Foi minha primeira sobremesa que figurou no menu degustação de Moments. Tapioca de leite de cabra, mousse e gel de yuzu, amêndoas caramelizadas, crema catalana líquida e uma delicada nougatine foram os componentes dessa arriscada aposta que Carme Ruscalleda nomeou como “Nossa crema catalana”.
Como foi ser a única representante feminina em C3?
Foi muito especial participar da grande final desse campeonato tão importante representando a Espanha, levando a Venezuela no meu coração e sendo a única mulher que conseguiu estar lá nessa edição. Foi uma oportunidade e uma responsabilidade grande. Queria que meu trabalho fosse impecável e estou muito feliz com o resultado.
Petit four L´essence de Guanaja caramelo aerado, nougatine de amendoa e gergelim, biscuit moelleux, gelée de maracujá, cigarette de chocolate e folhas de Dulcey
Como foi o treinamento para o concurso?
Passei cada minuto acordada, fora do trabalho, tentando aperfeiçoar e polir minhas sobremesas. Busquei o conselho de alguns dos maiores nomes da confeitaria espanhola, para me guiarem nesse desafio e levar algo do qual todos pudêssemos nos orgulhar.
Qual a principal lição de toda experiencia que viveu no C3?
Este tipo de competição tem um fato subjetivo que é impossível de saber, ainda mais quando os participantes possuem um nível de experiência excepcional. No entanto, eu quis focar unicamente na qualidade da minha proposta, reforçando minhas fraquezas, potencializando minhas fortalezas e distinguindo aquilo que me torna especial. A competição foi difícil, mas me sinto 100% orgulhosa. O processo criativo das produções que apresentei foram uma das experiências mais enriquecedoras e gratificantes da minha carreira.
Quais seus planos pro futuro?
Continuar melhorando a cada dia, em um lugar que eu possa me expressar criativamente e compartilhar meu amor pela profissão.

Sabe algo sobre a confeitaria brasileira ou conhece nossos confeiteiros?
Faz pouco tempo conheci aqui em Barcelona a Patricia Schmidt, cake designer de Escribà, que não só é uma brilhante profissional como uma pessoa incrível.
Quais são seus confeiteiros favoritos e o que a inspira em cada um?
Yann Duytsche, Jordi Roca, Frank Haasnoot, Ramon Morato, Enric Rovira. São confeiteiros que desenvolveram um estilo próprio e inconfundível.
Você pode responder com uma palavra agora!
A confeitaria é: liberdade
Um sabor: a comida da minha mãe
Uma vitória: ter encontrado e seguido minha paixão pela profissão
Um desejo: trabalhar sempre com um propósito
Uma memoria: os últimos minutos empratando minhas sobremesas na final de C3 em Nova Iorque.

RECEITA DA CHEF

CONFIRA OUTRAS ENTREVISTAS

Jordi Bordas e seu novo conceito para a confeitaria
