


A confeitaria é gastronomia e ponto.
Recorrer à metodologia da confeitaria permite a um cozinheiro alcançar uma maior consistência na criação dos seus pratos e a pensar em um adequado equilíbrio de sabores. Esse foi o legado deixado por Benoît Violier.
por Joyce Galvão
A confeitaria é gastronomia e ponto. Não final, pois na gastronomia nunca o ponto é final. É um ponto de exclamação, como um grito, um chamado de atenção. Prestem atenção, muita atenção!
Esses dias conversando com alguns amigos começamos a discutir alguns ingredientes de destaque na culinária em geral. Passei a dar exemplos de sobremesas de vários confeiteiros, para explicar como esses ingredientes, que ganhavam notoriedade na cozinha quente, estavam a muito tempo presentes na confeitaria. Em determinado momento da conversa passei a ouvir: “Ah, o chef tal faz um sorvete de mel de mandaçaia incrível!”, “O chef Y também tinha sobremesas incríveis no seu restaurante! ”.
Engoli uma decepção. E me calei.
Porque os nomes dos confeiteiros não poderiam aparecer acima dos cozinheiros? Porque o trabalho de um confeiteiro não pode ser valorizado a ponto dele receber o mérito por suas próprias criações?
Na Espanha, país que se destaca pela inovação que trouxe à cozinha de maneira geral, os congressos de gastronomia juntam no mesmo palco cozinheiros e confeiteiros, compreendendo que a sinergia das áreas é importantíssima para o desenvolvimento de novas ideias e ideais. Exemplo foi o último Fòrum Gastronòmic de Barcelona, no qual nomes como de Paco Torreblanca, Ramon Morato, Carmen Ruscalleda e Oriol Castro se misturaram.
No Brasil tivemos o primeiro evento de confeitaria dentro do Semana Mesa SP, o Doce Mesa. Comparando o palco do Mesa Tendências com o do Doce Mesa, é possível perceber o pouco espaço que a confeitaria ainda tem em eventos desse porte. E por que separar? Para que episódios como o ocorrido no Master Chef, com o terror causado aos participantes que deveriam reproduzir um Gateau Operá, mostre escancaradamente a necessidade de discutir confeitaria não apenas para confeiteiros ou aspirantes?
Chefes como Martín Berasategui, Alain Passard, Albert Adrià e Oriol Castro, antes de despontar frente aos seus restaurantes contaram com uma formação em confeitaria. Benoît Violier, falecido esse ano, também passou por temporadas nas cozinhas de Pierre Hermé e Lenotre.
A Confeitaria sempre mereceu melhor consideração, especialmente dentro de congressos e eventos gastronômicos. Muito pode e deve aprender o cozinheiro do rigor com que se trabalha um confeiteiro. A confeitaria adiciona precisão. O mínimo peso de cada ingrediente adquire grande relevância em um preparo – e essas regras e procedimentos não se aplicam geralmente à cozinha.
Recorrer à metodologia da confeitaria permite a um cozinheiro alcançar uma maior consistência na criação dos seus pratos e a pensar em um adequado equilíbrio de sabores. Esse foi o legado deixado por Benoît Violier.
Não deve haver barreiras entre o mundo doce e o salgado. Mesmo porque a confeitaria sempre foi parte da gastronomia.
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