


É pra ver ou pra comer?
O sorvete instagramável é só pra ver, só pra tirar foto ou serve pra comer, e além de tudo é gostoso? A Stefânia Tissot foi descobrir e conta pro Sobremesah!
por Joyce Galvão
Certa vez li que a curiosidade é uma das melhores características que uma pessoa pode ter. Não acredito que seja o traço mais importante da minha personalidade, mas com certeza ela move minhas escolhas. Desde a infância minha curiosidade por novos ingredientes e preparos me trouxe excelentes experiências, e confesso que algumas não tão boas…
Quando descobri que haviam acabado de inaugurar uma sorveteria especializada em sabores inusitados, como carvão, minha curiosidade falou alto! Como assim? Sorvete de carvão ativado e eu ficaria em casa apenas imaginando o sabor? Não! Catei minha bolsa, meu ticket de metrô e lá fui eu!!

Isso foi há três meses atrás. Início de verão, temperaturas acima dos 30 ºC e umidade relativa do ar por volta dos 80%. Sorvete de carvão ou de baunilha, naquele calor, pouco importava! Eu precisava era me refrescar! Quando cheguei no meu destino na Queen Street, duas da tarde e um sol digno de país tropical, doida por um sorvete, me deparei com uma fila de espera gigante para provar um sorvete. Um cone e um sorvete!!!
Perguntei à um dos corajosos que lá esperavam: “Que horas vocês chegou?”, ele respondeu animado: “Fazem 30 minutos, mas pelo que percebi, acho que em mais 30 minha vez deve chegar!”. É isso mesmo?! Uma hora no Sol para tomar um sorvete? Não, não, não e não. Fui embora pensando em voltar outro dia. Mas a fila perdurou por mais 3 meses, dando volta no quarteirão! Deixei o sorvete pra lá… minha curiosidade não venceu! O verão acabou e eu me esqueci do sorvete.
Foi que em uma tarde ensolarada de outono lá estava eu, na Queen Street. Um Sol lindo, pedido ideal para um sorvete e não tinha fila. Animada eu fui pedir o meu sorvete de carvão ativado (o carvão ativado é um subproduto extraído depois do processo de queima lenta da casca da noz de coco e outros materiais vegetais, alguns dizem que tem propriedades benéficas para a saúde, como redução do colesterol, no entanto nenhum estudo científico foi conclusivo a esse respeito.).
CAD $6,50 por uma casquinha – caro na minha opinião, mas quem está na chuva é para se molhar, não é mesmo? Pedi o sabor tradicional de coco com carvão ativado. Finalmente! O tão falado “Goth Ice-Cream” (ou sorvete gótico em português) nas minhas mãos!!!
Ao sair da sorveteria entusiasmada para provar a minha mais nova experiência gastronômica percebi, ao olhar em volta, que eu era a única que estava ali querendo realmente provar o meu sorvete. Todo os outros clientes, e repito, exatamente todos os outros, estavam posando com o seu post, ops! – sorvete. Aquela fila toda era para tirar fotos com o sorvete e não prova-lo. Como não pensei nisso? Num mundo onde as experiências acabam se resumindo em um post no Facebook ou Instagram, qual motivo um sorvete preto faria tanto sucesso se não para uma foto bacana nas redes sociais?
Foi então que não pude deixar de me perguntar: esse é o futuro? A evolução da confeitaria está fadada a modas passageiras? Agora estamos falando do carvão ativado, o que certamente será substituído por outro ingrediente viral quando um artista de Hollywood ou rapper decidir dizer que faz bem à saúde, ou talvez nem isso. O fato é que minha alma curiosa busca mais do que apenas o sorvete da moda…
O veredicto? O sabor está entre o “sem graça” e “não senti muito gosto de nada”. E a não ser que você não goste de sorvete “de casquinha”, provavelmente vai achar o sabor “ok”.
Dessa vez a curiosidade matou o gato, mas pelo menos rendeu uma foto no instagram.
ONDE
iHalo Krunch
915 Queen Street W
M6J 1G5 Toronto
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