


Sobremesas para se deliciar em Roma
Se você é fã de doces, quer se aprofundar na culinária romana ou mostrar para a família os melhores bocados nas próximas férias, siga nossos passos!
por Joyce Galvão
Mangiare é a maior paixão da Itália. A religião inviolável e, ao mesmo tempo, sagrada e profana. A comida está por todos os lados da cidade: em mercados construídos sobre ruínas, no aroma de lenha queimando ao entardecer, no tilintar das taças de vinho e nas vitrines coloridas das sorveterias espalhadas pela cidade.
Grande parte da curtição de uma viagem para mim é comer – e Roma é uma cidade que me dá opções sem fim de diversão! Comer é meu trabalho. A minha religião inviolável. E eu jamais poderia deixar de indicar um guia dos doces que você não pode deixar de comer na sua viagem à Roma! Pode parecer que não, mas os doces por aqui também são autênticos e cheios de tradição.
Maritozzo
Não é bem uma sobremesa. Ao menos não para os romanos.
Originalmente é um doce quaresmal, chamado de maritozzi quaresimali, com pinholes, frutas cristalizadas e passas. Hoje o pão doce bem macio, cortado ao meio e recheado com panna (chantili) fresquinha – as vezes também com sorvete ou chocolate – ocupa um grande espaço na vitrine de doces de um ‘bar’.
Se você quer ser um romano verace (um romano verdadeiro), ao menos por um dia, aja como um romano e tenha um café da manhã como um romano. Acabe com todas as calorias que você poderia consumir ao longo do dia com um macio e bem recheado maritozzi con la panna, deixando suja a ponta do seu nariz ao queixo, tamanha abundância de creme! E para ser fiel aos modos romanos, emende um cappuccio, ou para colocar tudo em jogo, um caffè correto (café com bebida alcoólica).
A ordem é pedir, comer, colocar o dinheiro no balcão e sair para o seu tour pela cidade com o estomago forrado. Pelo resto do dia!
ONDE COMER
Pasticceria Regoli | Via dello Statuto 60.
Bar il Maritozzaro | Via Ettore Rolli 50, Rome, Italy
Crostata di Visciole
É inquestionavelmente um dos doces mais icônicos de Roma e toda a região do Lácio. Visciole são cerejas silvestres nativas com uma cor vermelha intensa, um sabor potente quase almiscarado. A crostata clássica é bastante simples – uma massa quebradiça com recheio de geleia e um topo entrelaçado. Se você tiver a sorte de encontrá-la recém assada, ainda quentinha, é muito mais deliciosa.
É uma torta de tradição romano-judaica e não há melhor lugar para comer que não a preparada pelas mãos das irmãs Boccione, no gueto judaico. Mas a do Forno Campo de´Fiori também tem um lugar muito especial no meu coração. Na dúvida, prove as duas!
ONDE COMER
Pasticceria Boccione | Via del Portico d´Ottavia, 1
Forno Campo de´Fiori | Piazza Campo de’ Fiori, 22

Tiramisù
Não tem muito como escapar de tiramisù em Roma, mesmo que seja um doce da região do Vêneto, criada em Treviso.
Não, o doce não tem nada de romano, sinto desapontar…
Nos anos 80 o tiramisù ficou tão famoso nos restaurantes de Roma (e dos Estados Unidos), como se tivesse sido criado por ali mesmo. Dai foi um pulo para começarem a servir tiramisù em copinhos no estilo que todo romano ama comer: mangiare strada facendo.
O tiramisù clássico (creme zabaglione feito com ovos, adicionado com mascarpone e servido com biscoitos secos regados com um potente espresso), nunca se enquadrou muito bem entre as sobremesas italianas mais desejadas. Aliás, existem tantas variações de tiramisù que a receita original se tornou praticamente desconhecida!
Dizem que o primeiro tiramisù foi servido no início da década de 60 por Speranza Garatti no Ristorante da Celeste, em Treviso. A coppa imperiale foi servida em uma taça e logo depois modificada por um restaurateur do Le Beccherie que nomeou o doce como tiramisù. Desse ponto deu-se início à disputa sobre quem inventou o doce, até o Le Beccherie receber o crédito “oficial” pela invenção do tiramisù.
Para um bom vêneto que cresceu comendo tiramisù, o segredo está em utilizar ovos crus, é isso que dá o seu sabor característico, diferente dos ovos cozidos em banho maria. Ovos frescos, retirados ainda quentes do galinheiro e batidos com açúcar. Isso separa um apenas bom tiramisù do melhor!
Na minha opinião o tiramisù nunca tem o gosto do que realmente deveria ter- tamanhas ‘releituras’ da receita! Alguns lugares usam bebidas alcoólicas, outros um pouco de chantili para deixar o zabaglione mais leve e aerado… Cada local usa uma proporção de ingredientes… Mas é esse sabor mutante, essa soma de ingredientes e modos de preparo que faz o tiramisù ser tão gostoso, independente das modificações da receita original.
ONDE COMER
Pompi Tiramisù | Via della Croce, 82
Zum | Piazza del Teatro di Pompeo, 20

Pudim de leite
O pudim de leite existe desde a época do Império Romano. Sobreviveu à Idade Média, e graças a Cristovão Colombo (dizem) e às grandes navegações, conquistou muitos paladares na Península Ibérica. Depois de viajar pelo mundo voltou às suas origens na Itália como receita portuguesa e novo nome: latte alla portoghese. Daí ganhou as cozinhas do Sul da França, principalmente Toulouse, e então, mais uma vez retornou à Itália, agora com nome metido a besta: crème caramel.
Eu sei, você deve estar se perguntando: mas pudim não é brasileiro? É… Não é!
Agora que você se surpreendeu tenho certeza que está curioso para provar um pudim em Roma. Eu indico, mas adianto: ninguém domina a arte do pudim como nós, brasileiros!
ONDE COMER
Trattoria Da Cesare al Casaletto | Via del Casaletto, 45 – Dizem que o pudim daqui é tão bom, o melhor de Roma, que uma princesa árabe ofereceu um voo para Leonardo, o dono da trattoria, para ele ir até seu palácio ensinar ao seu chef como fazer o pudim!)
Ristorante Renato e Luisa | Via dei Barbieri, 25
Marzapane | Via Velletri 39
Torta di Mele
Desde 1824 o Antico Forno Roscioli serve pães, bolos, biscoitos e delícias romanas na Via dei Chiavari, a rua mais cheirosa de Roma!
Nunca vou me esquecer quando fui surpreendida com a vitrine da Roscioli pelo meu caminho. A janela da cozinha dava para a rua (hoje já não mais) e quando parei para olhar, curiosa que sou, vi uma bandeja de bolos de maçã bem quentes sendo removidos do forno. Fechei os olhos, inspirei profundamente aquele cheiro e nunca mais o esqueci.
A Torta di mele é úmida, suculenta, cheirosa… Especialmente quando tenho a sorte de encontrá-la do mesmo jeito que a conheci: fresquinha. Claro que há outras delícias, mas nada como resgatar as minhas melhores lembranças de Roma. A torta di mele para mim, se tornou um clássico romano!
ONDE COMER
Antico Forno Roscioli | Via dei Chiavari, 34

Torrone romano
Eu nunca achei que poderia encontrar em Roma uma versão de torrone ao estilo romano. Macio e cravejado de nocciola, revestido com uma camada de chocolate que equilibra perfeitamente a doçura do nougat e derrete na boca (ao invés de quebrar o seu dente).
O melhor lugar para comer um bom torrone é na Pasticceria Valzani, uma confeitaria histórica da cidade. Aproveite e leve para viagem diavoletti (praliné com pimenta), pangiallo (feito de frutas secas, amêndoas, avelãs e passas, para desfrutar no final de uma refeição) e mostacciolo romano (segundo os escritos de Plínio il Giovane, devem ser oferecidos durante o sponsali pela noiva aos convidados e trata-se de um costume desde a época do Império Romano).
ONDE COMER
Pasticceria Valzani | Via del moro 37, Trastevere
Ciambelline al Vino
Ciambella em italiano significa anel e, em termos de confeitaria, pode se referir a qualquer coisa, de um bolo a um donut. Neste caso, ciambelline al vino é um biscoito romano muito particular feito com vinho tinto ou branco (geralmente o Frascati local) e aromatizado com sementes de anis. A massa de fermento é moldada em forma de anel de um jeito bem rústico, polvilhada com açúcar e então assada.
É o biscotti perfeito para uma xícara de café, chá ou, melhor ainda, para acompanhar uma taça de vinho doce.
ONDE COMER
Antico Forno Roscioli | Via dei Chiavari, 34
Panificio Beti (Oven Brothers Beti) | Via del Vascello 46, Monteverde Vecchio.
PARA MAIS GARFADAS!


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