

Para se aprofundar na história da alimentação no Brasil
Sou apaixonado por história da alimentação por isso apresento minha lista mais que especial para quem, como eu, deseja se aprofundar na nossa cultura alimentar.
por Bernardo Arribada
Fui o convidado da última live do Clube do Livro que acontece no instagram da Joyce. Mostrei minha estante que, como bom museólogo e apaixonado por alimentação, está dividida por temas específicos, e compartilhei uma seleção de livros (que demorei a pensar) para quem quer iniciar ou se aprofundar do tema da história da alimentação no Brasil.
A live você encontra nesse link aqui e os livros, deixo abaixo! Boa leitura!
Luís da Câmara Cascudo
Câmara Cascudo é um autor-base para compreendermos a formação da nossa culinária. Ele nasceu em Natal, Rio Grande do Norte, em 1898 e foi historiador, antropólogo, advogado e jornalista brasileiro. Seus estudos foram voltados, principalmente, para a cultura brasileira, em especial o folclore, a cultura popular e a alimentação. Deixou grandes contribuições bibliográficas como o Dicionário do Folclore Brasileiro e, voltado para a culinária, o História da Alimentação no Brasil e o Antologia da Alimentação no Brasil.
O livro História da Alimentação no Brasil é o mais completo estudo feito sobre a cozinha brasileira, em seus múltiplos aspectos. Suas quase 1000 páginas tentam dar conta da história da alimentação, elementos sociais que envolvem o ato de comer, a sociologia da alimentação e suas superstições. Apesar de ainda descrever a história da alimentação no Brasil como um resultado da fusão da comida do índio, do branco e do negro – teoria que antropologicamente já foi desmistificada – não podemos deixar de lado todo o conhecimento construído por Câmara Cascudo nesse que é a bíblia da história da alimentação no Brasil.
Já em Antologia da Alimentação no Brasil, Câmara Cascudo organizou pequenos textos temáticos, escritos por ele e por outros antropólogos, sociólogos, viajantes e historiadores da alimentação como Hildergardes Vianna, Sodré Viana e Jean Baptiste Debret. Na publicação aspectos mais específicos e curiosos, como a dieta do Imperador, os molhos baianos e o costume de esconder comida na gaveta para não oferecer são tratados de forma leve e divertida, sem deixar de se preocupar com as questões historiográficas.
Gilberto Freyre
Gilberto Freyre nasceu em Recife em 1900. Foi um estudioso e escritor brasileiro que se dedicou a interpretar a formação social do Brasil sob diversos prismas e aspectos diferentes. Procurou compreender a formação econômica e histórica do Nordeste Brasileiro, tendo como pano de fundo a sociedade açucareira do período colonial.
Desses estudos, surgiram livros de importância ímpar para a historiografia do Brasil, como Casa Grande e Senzala e Sobrados e Mucambos, dissertações primordiais para compreendermos a formação social brasileira.
Freyre contribuiu para a história da alimentação no Brasil com diversos livros, inclusive os já citados anteriormente. De forma mais específica, citamos o livro Açúcar: uma sociologia do doce, publicado pela primeira vez em 1932. Na publicação, Freyre reuniu diversas receitas tradicionais de iguarias como bolos, doces e merendas do Nordeste, em especial de sua terra natal. É bibliografia essencial para compreender sociologicamente a importância do açúcar na formação cultural do Brasil.
Paula Pinto e Silva
Paula Pinto e Silva é uma antropóloga brasileira, mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP).
Seu livro, Farinha, Feijão e Carne Seca: um Tripé Culinário no Brasil Colonial, resultado de uma pesquisa acadêmica, apresenta um olhar para a cozinha colonial do Brasil pelo viés da antropologia, elucidando, com texto fluido e de fácil compreensão, como a farinha, o feijão e a carne seca foram essenciais para constituir os elementos básicos da cultura alimenta brasileira.
Carlos Alberto Dória
Doutor em sociologia pela Unicamp, Carlos Alberto Dória tem longa e profícua pesquisa no campo da alimentação no Brasil, com diversos livros publicados na área de gastronomia e culinária, sempre com o olhar histórico e sociológico para a formação culinária brasileira.
Todos os seus livros contribuem de maneira essencial para a compreensão da história da alimentação no Brasil, em especial Formação da Culinária Brasileira e A Culinária Caipira da Paulistânia.
No primeiro, Dória apresenta uma nova forma de compreendermos essa história olhando para os insumos – mandioca, milho, arroz, feijão – e como eles refletem as escolhas alimentares locais na história do Brasil, derrubando por terra os projetos pedagógicos que ensinam cozinha brasileira por divisão regional ou defendendo a tríade negro-branco-índio.
Em A Culinária Caipira da Paulistânia, Dória se debruça na formação culinária do território anteriormente chamado de Paulistânia e que hoje compreende parte dos estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, que tem como base alimentar o milho e o porco, exaltando a culinária caipira, antes renegada ou considerada inferior.
Raul Lody
Raul Lody é antropólogo e museólogo e tem seus estudos e publicações voltados para a história da culinária na Bahia, para a história do açúcar no Nordeste e para as religiões de matriz africana, em especial ao Candomblé. Além disso, foi curador do Museu da Gastronomia Baiana e publica artigos voltados para a culinária baiana e africana no blog Brasil Bom de Boca.
Dentre seus inúmeros livros, indicamos a leitura dos livros originados dos Seminários que aconteceram no Museu da Gastronomia Baiana: “Dendê: símbolo e sabor da Bahia”, “Farinha de Mandioca”, “Águas de Comer” e “Coco”. Ainda na temática de culinária baiana, os livros “Brasil Bom de Boca”, “Kitutu” e “Bahia bem temperada” merecem atenção.
No âmbito do açúcar, Lody traz importantes contribuições para compreendermos o papel do doce na formação culinária brasileira em “Doce Pernambuco”, “Caminho do Açúcar” e no “Vocabulário do Açúcar”. Lody ainda participou da reedição do “Dicionário do Doceiro Brasileiro”.
Guilherme Radel
Guilherme Radel foi um estudioso da culinária da Bahia, tendo escrito os livros “A Cozinha Africana da Bahia”, “A Cozinha Praiana da Bahia”, “A Cozinha Sertaneja da Bahia” e “A Doçaria da Bahia”.
Essas obras apresentam um painel geral da cozinha baiana, abordando tópicos históricos, sociológicos, antropológicos e etnográficos. Junto com os livros de Raul Lody, os estudos de Radel nos ajudam a compreender a culinária baiana, e do Nordeste, para além da chamada “cozinha de azeite”, baseada no uso do dendê e com bases africanas.